"Se a gente não prevenir essas questões hoje, a gente corre risco de ter um aumento dos tipos câncer relacionados ao sistema respiratório em um futuro próximo", diz Ubirani Otero.
O alerta da especialista aponta o caminho para evitar o surgimento de casos. "A melhor prevenção contra o câncer é a eliminação da exposição. Se cessar o quanto antes, a gente pode prevenir muitos casos no futuro."
A epidemiologista explica que a fumaça proveniente dos incĂȘndios florestais é formada por inĂșmeros compostos quĂmicos, o que a tornam cancerĂgena.
"As queimadas geram muito material particulado. Estamos falando de liberação de monóxido de carbono, solventes, metais pesados, hidrocarbonetos aromĂĄticos, fuligem, uma gama de material que fica suspenso no ar".
O Brasil vivencia um panorama grave de queimadas e incĂȘndios florestais em 2024. De janeiro a agosto, os incĂȘndios atingiram 11,39 milhões de hectares, segundo dados do Monitor do Fogo Mapbiomas, divulgados no Ășltimo dia 12. De acordo com o levantamento, 5,65 milhões de hectares – ĂĄrea equivalente ao estado da ParaĂba – foram consumidos pelo fogo apenas no mĂȘs de agosto, o que equivale a 49% do total do ano.
Na tarde desta terça-feira, estĂĄ marcada uma reunião dos chefes dos TrĂȘs Poderes da RepĂșblica para tratar da questão. O encontro foi proposto pelo presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, que passou o inĂcio da semana em reunião com ministros do governo. Em junho, o governo criou uma sala de situação preventiva para tratar sobre a seca e o combate a incĂȘndios, especialmente no Pantanal e na Amazônia.
Nuvens de fumaça se espalham pelo paĂs, alterando paisagens.
A PolĂcia Federal abriu investigação para apurar se as queimadas tĂȘm origem criminosa. HĂĄ indĂcios de ações coordenadas.
IncĂȘndios também surgiram em outras regiões, como o Sudeste. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, também foram criados gabinetes de crise pelos governos locais. Na região serrana do Rio de Janeiro, o chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos afirma que o fogo consome ĂĄreas raramente atingidas por incĂȘndios.
"O perĂodo de latĂȘncia é grande, então os efeitos dessa poluição de hoje para câncer a gente só vai ver depois de 20, 30 anos", alerta a epidemiologista
A especialista do Inca direciona a preocupação de saĂșde, incluindo doenças respiratórias, principalmente para crianças, idosos e trabalhadores que atuam em ĂĄreas abertas, com destaque para os bombeiros que combatem diretamente as chamas.
"Eles precisam estar totalmente equipados, bem protegidos, com as mĂĄscaras e devidos equipamentos de proteção individual, para que eles não sofram efeitos dessa fumaça", orienta ela, acrescentando que é preciso cuidado também com a lavagem das roupas usadas por eles em serviço. "EstĂĄ cheia de fuligem. Todo cuidado tem que ser tomado."Ela defende medidas como a suspensão de aulas em locais e perĂodo crĂticos, para diminuir a exposição prolongada de crianças à fumaça.
"As crianças tĂȘm uma atividade fĂsica maior, elas acabam aspirando mais essa fumaça que os adultos. Os efeitos para elas são maiores, principalmente respiratórios", explica.
A epidemiologista aponta que a fumaça das queimadas é tão maléfica quanto a do tabaco. Ao evidenciar que o câncer é uma doença multifatorial, ela chama atenção para o perigo de se acumular fatores de risco, por exemplo, o fato de ser fumante.
"De um risco que seria dez vezes maior em relação à população geral, passa a 20 vezes maior ou até mais [entre fumantes]", afirma.Recomendações
A chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Inca orienta que pessoas em ĂĄreas afetadas pela fumaça das queimadas tomem precauções, como evitar sair de casa, para diminuir a exposição, usar mĂĄscara de proteção, beber bastante ĂĄgua e fazer lavagem das narinas.
Fonte: AgĂȘncia Brasil