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Especialista do Inca alerta para risco da fumaça das queimadas à saĂșde

Por Circuito Araruama em 18/09/2024 às 07:48:39

O Brasil precisa reduzir a exposição da população à fumaça gerada pelas queimadas para evitar um aumento do nĂșmero de casos de câncer nas próximas décadas. O alerta é da epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que define o cenĂĄrio atual como "muito preocupante". A pesquisadora conversou com a AgĂȘncia Brasil nesta terça-feira (17) sobre os efeitos da fumaça na saĂșde humana.

"Se a gente não prevenir essas questões hoje, a gente corre risco de ter um aumento dos tipos câncer relacionados ao sistema respiratório em um futuro próximo", diz Ubirani Otero.

O alerta da especialista aponta o caminho para evitar o surgimento de casos. "A melhor prevenção contra o câncer é a eliminação da exposição. Se cessar o quanto antes, a gente pode prevenir muitos casos no futuro."

A epidemiologista explica que a fumaça proveniente dos incĂȘndios florestais é formada por inĂșmeros compostos quĂ­micos, o que a tornam cancerĂ­gena.

"As queimadas geram muito material particulado. Estamos falando de liberação de monóxido de carbono, solventes, metais pesados, hidrocarbonetos aromĂĄticos, fuligem, uma gama de material que fica suspenso no ar".

IncĂȘndios

O Brasil vivencia um panorama grave de queimadas e incĂȘndios florestais em 2024. De janeiro a agosto, os incĂȘndios atingiram 11,39 milhões de hectares, segundo dados do Monitor do Fogo Mapbiomas, divulgados no Ășltimo dia 12. De acordo com o levantamento, 5,65 milhões de hectares – ĂĄrea equivalente ao estado da ParaĂ­ba – foram consumidos pelo fogo apenas no mĂȘs de agosto, o que equivale a 49% do total do ano.

Na tarde desta terça-feira, estĂĄ marcada uma reunião dos chefes dos TrĂȘs Poderes da RepĂșblica para tratar da questão. O encontro foi proposto pelo presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, que passou o inĂ­cio da semana em reunião com ministros do governo. Em junho, o governo criou uma sala de situação preventiva para tratar sobre a seca e o combate a incĂȘndios, especialmente no Pantanal e na Amazônia.

Grandes focos de incĂȘndio atingiram ĂĄreas do Parque Nacional de BrasĂ­lia nesta segunda-feira - Marcelo Camargo/AgĂȘncia Brasil

Nuvens de fumaça se espalham pelo paĂ­s, alterando paisagens.

A PolĂ­cia Federal abriu investigação para apurar se as queimadas tĂȘm origem criminosa. HĂĄ indĂ­cios de ações coordenadas.

IncĂȘndios também surgiram em outras regiões, como o Sudeste. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, também foram criados gabinetes de crise pelos governos locais. Na região serrana do Rio de Janeiro, o chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos afirma que o fogo consome ĂĄreas raramente atingidas por incĂȘndios.

Riscos

O tipo de câncer mais diretamente ligado à exposição prolongada à fumaça e poluição do ar é o de pulmão e outras partes do sistema respiratório. Ubirani Otero aponta que, diferentemente de outras doenças agudas causadas pela exposição prolongada, como sĂ­ndromes respiratórias, os cânceres podem levar de 20 a 30 anos para serem identificados.

"O perĂ­odo de latĂȘncia é grande, então os efeitos dessa poluição de hoje para câncer a gente só vai ver depois de 20, 30 anos", alerta a epidemiologista

A especialista do Inca direciona a preocupação de saĂșde, incluindo doenças respiratórias, principalmente para crianças, idosos e trabalhadores que atuam em ĂĄreas abertas, com destaque para os bombeiros que combatem diretamente as chamas.

Ubirani Otero, especialista do Inca, alerta para perigo da fumaça das queimadas - Arquivo pessoal/Divulgação

"Eles precisam estar totalmente equipados, bem protegidos, com as mĂĄscaras e devidos equipamentos de proteção individual, para que eles não sofram efeitos dessa fumaça", orienta ela, acrescentando que é preciso cuidado também com a lavagem das roupas usadas por eles em serviço. "EstĂĄ cheia de fuligem. Todo cuidado tem que ser tomado."Ela defende medidas como a suspensão de aulas em locais e perĂ­odo crĂ­ticos, para diminuir a exposição prolongada de crianças à fumaça.

"As crianças tĂȘm uma atividade fĂ­sica maior, elas acabam aspirando mais essa fumaça que os adultos. Os efeitos para elas são maiores, principalmente respiratórios", explica.

A epidemiologista aponta que a fumaça das queimadas é tão maléfica quanto a do tabaco. Ao evidenciar que o câncer é uma doença multifatorial, ela chama atenção para o perigo de se acumular fatores de risco, por exemplo, o fato de ser fumante.

"De um risco que seria dez vezes maior em relação à população geral, passa a 20 vezes maior ou até mais [entre fumantes]", afirma.Recomendações

A chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Inca orienta que pessoas em ĂĄreas afetadas pela fumaça das queimadas tomem precauções, como evitar sair de casa, para diminuir a exposição, usar mĂĄscara de proteção, beber bastante ĂĄgua e fazer lavagem das narinas.

>> Conheça as recomendações do Ministério da SaĂșde

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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