O diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Clayton Dornelles, lamenta que o uso dessas substâncias ilĂcitas tenha se tornado muito comum. "Tem um mercado clandestino", constata.
"Essas substâncias podem ter doses erradas, ingredientes não declarados, contaminantes. Tudo isso pode potencializar os efeitos colaterais que jĂĄ são próprios dos esteroides anabolizantes", destaca o médico, em entrevista à AgĂȘncia Brasil. Entre os principais efeitos nocivos, ele cita a toxicidade desconhecida. "Esses produtos podem ter substâncias altamente tóxicas para fĂgado, rim, coração... a gente jĂĄ viu até tempero de cozinha, óleos absurdos na manufatura desses compostos."
O médico acrescenta que o usuĂĄrio de substâncias clandestinas estĂĄ submetido a falha terapĂȘutica, ou seja, que o paciente que tenha indicação médica para usar o produto não terĂĄ o benefĂcio proposto. O consumo desses esteroides pode deixar o paciente sujeito a efeitos adversos imprevisĂveis, como, por exemplo, reações alérgicas. "Ali tem uma mistura de vĂĄrias substâncias, aditivos, compostos quĂmicos."
Dornelles ressalta que boa parte de tais medicamentos é de origem veterinĂĄria, literalmente doses cavalares, o que "potencializa bastante" o risco.
Indicação restrita
Medicamentos classificados como de uso controlado, os esteroides androgĂȘnicos anabolizantes são substâncias sintéticas (fabricadas) derivadas do hormônio testosterona, o chamado "hormônio masculino", que dĂĄ caracterĂsticas como barba, cabelo e pelos. Também se caracteriza pela capacidade anabólica. "EstĂmulo da sĂntese de qualquer proteĂna, principalmente a proteĂna muscular, por isso é que crescem os mĂșsculos", explica Dornelles. Popularmente, essas substâncias também são chamadas de "bombas".
A lei determina que apenas médico ou dentista pode receitar anabolizante.
"Uma indicação de exceção, não de rotina", enfatiza o médico. Outro uso especifico é em pessoas com incongruĂȘncia de gĂȘnero.
"As indicações aprovadas para os medicamentos anabolizantes são aquelas que constam nas bulas. Outras indicações não foram analisadas e não estão autorizadas", reforça a AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa), órgão ligado ao Ministério da SaĂșde, em comunicado enviado à AgĂȘncia Brasil.
Venda clandestina
De acordo com a Anvisa, a venda de anabolizantes é permitida somente em farmĂĄcias e drogarias devidamente regularizadas e mediante apresentação de receita especial. Qualquer medicamento anabolizante que não esteja autorizado pela Anvisa é um produto ilegal. Quadrilhas tentam burlar a proibição de venda livre de esteroides. Em 2023, uma operação da PolĂcia Federal percorreu seis estados.
- Suspeite de produtos recebidos fora da embalagem original. Todos os medicamentos são fornecidos dentro de caixinhas de papel;
- Suspeite de produtos que são comercializados em sites que não sejam de farmĂĄcias e drogarias regularizadas. Evite sites em geral e marketplaces, vendedores ambulantes, carros de som ou outros estabelecimentos que não podem comercializar medicamentos. É que os produtos vendidos nesses locais tĂȘm procedĂȘncia incerta e podem ser falsificados;
Uso indevido e danos
O médico Clayton Dornelles ressalta que mesmo o produto legalmente fabricado deve ser usado apenas nas condições especificadas por médicos. "Nunca para fins estéticos, ganho de performance, uso recreativo, melhora da performance sexual, crescimento de massa muscular, antienvelhecimento, nada disso." Para ele, os riscos são maiores que qualquer benefĂcio.
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) proĂbe a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgĂȘnicos e anabolizantes para fins de estética, ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo.
Homens e mulheres podem ter acne severa, pele oleosa, crescimento de pelos e queda de cabelo. IndivĂduos predispostos tĂȘm mais risco de tumores de mama e de próstata.
HĂĄ ainda questões cerebrais psicológicas como irritabilidade, ansiedade, depressão e agressividade. "A gente vĂȘ casos até de feminicĂdio, violĂȘncia doméstica pelas doses muito altas de testosterona no cérebro", conclui Dornelles.
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