"Teve muita desconfiança da população quando fomos fazer a soltura dos mosquitos na cidade. Poxa, todo mundo matando mosquito e Niterói vai soltar mosquito? Como assim? Nós fizemos um trabalho intenso com as lideranças comunitĂĄrias, com as associações de moradores, com a Federação das Associações de Moradores de Niterói, e elas nos apoiaram nesse convencimento junto à população para que os mosquitos pudessem ser soltos. Hoje, a gente tem uma situação menos dramĂĄtica do que em grande parte do Brasil", lembra a secretĂĄria de SaĂșde de Niterói, Anamaria Schneider.
Segundo a secretaria, os nĂșmeros apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas ĂĄreas onde houve a intervenção entomológica. Os casos foram caindo ano a ano. Em 2015, ano da implantação do projeto, foram confirmados 158 casos de dengue em Niterói. Em 2016, foram 71, em 2017, 87. Em 2018, houve um aumento para 224 pacientes confirmados com a doença, mas o nĂșmero caiu no ano seguinte, quando foram registrados 61 casos. A partir de 2020, com 85 casos, os nĂșmeros caĂram a cada ano, com 16 em 2021 e 12, em 2022. Em 2023, foram confirmados 55 casos de dengue na cidade. Até o momento são cerca de 30 casos suspeitos.
O trabalho foi iniciado em 2015 com uma ação piloto no bairro Jurujuba. Em 2017, o método Wolbachia chegou a 33 bairros das regiões das praias da BaĂa e Oceânica. Em 2023, Niterói se tornou a primeira cidade brasileira com 100% do território coberto pelo método Wolbachia.
Mesmo com o Wolbito, o municĂpio não abandonou as ações de prevenção e monitoramento, que são realizadas ao longo de todo o ano.
"É um trabalho contĂnuo, não para. Nós temos 300 agentes de endemias que fazem visitas em 5 mil imóveis diariamente. A gente tem um grupo que visita só imóvel abandonado. Eles conseguem entrar em imóveis que ninguém tem acesso. A gente visita porque tem muitos focos de mosquitos. Nessa época, aumentam as denĂșncias da população, mas é um trabalho rotineiro, durante todo o ano", explica, Schneider.
O método, que tem origem na AustrĂĄlia, é aplicado no Brasil porque o paĂs integra, desde 2014, o rol de 11 paĂses que compõem o Programa Mundial de Mosquitos, em inglĂȘs World Mosquito Program (WMP). No Brasil, é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da SaĂșde em parceria com governos locais. Atualmente, as cidades jĂĄ incluĂdas na pesquisa são Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte, Niterói e Rio de Janeiro.
Este ano, o método chegarĂĄ a mais seis cidades: Natal, Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).
O método, no entanto, não tem resultado imediato e precisa ser associado a outras ações para combater a doença. "O método Wolbachia não é um método de ação imediata, como é um inseticida, por exemplo, que vocĂȘ aplica e mata o mosquito. A Wolbachia é preventiva. A gente precisa cobrir um território, aguardar esse estabelecimento dos mosquitos. Acaba sendo algo preventivo, de médio prazo, porque a gente precisa estabelecer, fazer todo o processo e aguardar um tempo para que os resultados sejam vistos", explica o lĂder de operações da WMP Brasil, Gabriel Sylvestre.
Segundo ele, em cerca de 2 anos, é possĂvel observar os resultados do método. No entanto, ele não deve ser a Ășnica forma de combate à dengue e às demais doenças. "O método Wolbachia não pode ser pensado de uma forma Ășnica. É preciso que haja esse esforço coletivo, tanto do poder pĂșblico quanto da população. AĂ a gente entra como mais uma força nesse combate", enfatiza.
Apesar de também ter recebido o Wolbito, a cidade do Rio de Janeiro estĂĄ em situação diferente da do municĂpio vizinho. A cidade declarou situação de emergĂȘncia devido ao aumento do nĂșmero de internações por suspeita de dengue.
No Rio, o Wolbito foi liberado apenas em algumas regiões e não em toda a cidade como em Niterói.
"São dados muito complexos de serem analisados. Isso vai depender, em grande parte, da dimensão do projeto. Em Niterói, a cidade inteira participou do projeto. Então, toda a cidade, cada bairro, tem Wolbito estabelecido. Isso garante uma proteção na cidade como um todo. O impacto acaba sendo mais relevante, mais forte do que em uma cidade com a complexidade que tem o Rio de Janeiro. E a gente não conseguiu chegar em grandes proporções da cidade do Rio ainda", explica Sylvestre.
Fonte: AgĂȘncia Brasil