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Entidades ligadas à educação aprovam suspensão do novo ensino mĂ©dio

Por Circuito Araruama em 08/04/2023 às 19:04:09

A suspensão por 60 dias da implementação do Novo Ensino Médio (NEM), criado em 2017, repercutiu positivamente no meio educacional. O Ministério da Educação (MEC) suspendeu os prazos de parte do Cronograma Nacional de Implementação do NEM e aguardarĂĄ a conclusão da consulta pĂșblica para avaliação e reestruturação da polĂ­tica nacional sobre o ensino médio. Para especialistas e entidades ouvidos pela AgĂȘncia Brasil, o tema deve ser tratado a partir de um diĂĄlogo do governo com o setor.

A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) considerou a suspensão importante para professores e alunos. "Frear a implementação do Novo Ensino Médio é um passo importante para os estudantes e professores que estão sofrendo os impactos de uma medida aprovada sem o amplo debate e o aperfeiçoamento de quem vive a escola diariamente além de possibilitar a construção de uma nova proposta para o Ensino Médio brasileiro".

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A presidente da Ubes, Jade Beatriz, defendeu a participação dos estudantes na elaboração do novo currĂ­culo. "É uma vitória, mas não é suficiente. A suspensão é um intervalo. Não queremos que o ensino médio volte a ser o que era antes da reforma. Mas é preciso incluir os estudantes nesta discussão. É um momento muito decisivo nas nossas vidas" disse.

"Sem opção de boa educação e profissional, a gente vira mão de obra barata", acrescentou. A presidente da Ubes sinalizou que farĂĄ ainda uma mobilização nacional pela revogação total e imediata do novo ensino médio.

O Todos pela Educação, organização da sociedade civil sem fins lucrativos e suprapartidĂĄria, fundada em 2006, aprovou a suspensão da implementação do novo ensino médio. Contudo, o diretor de PolĂ­ticas PĂșblicas da entidade, Gabriel CorrĂȘa, argumenta que a decisão do MEC precisa ser feita de forma pactuada com as secretarias estaduais de Educação e com clareza aos professores e estudantes.

"Faz parte do jogo e é importante nesse perĂ­odo de consulta pĂșblica haver uma suspensão. É o que a gente tem chamado de um freio de arrumação. Mas o Ministério da Educação precisa dar mais clareza às secretarias de Educação, às escolas profissionais e aos estudantes o que isso vai significar no dia a dia, nos próximos meses".

O governo federal aguardarĂĄ a conclusão da consulta pĂșblica para avaliação e reestruturação da polĂ­tica nacional sobre o ensino médio. As contribuições poderão ser feitas em audiĂȘncias pĂșblicas, oficinas de trabalho, seminĂĄrios e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiĂȘncia de implementação do Novo Ensino Médio nas unidades da federação.

A professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Katharine Ninive Pinto Silva entende que a suspensão do cronograma foi necessĂĄria, mas insuficiente. "É preciso que esse modelo de ensino médio seja revogado, tendo em vista o fato de que aprofunda as desigualdades de acesso ao saber historicamente produzido pela humanidade."

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, organização da sociedade civil do campo da educação criada em 1999, entende que a medida do atual governo é um "primeiro passo" e requer providĂȘncias posteriores. "Não é, obviamente, suficiente. E ainda faltou responder o que as escolas vão fazer nesse perĂ­odo de consulta e nos 60 dias: segue com brigadeiro caseiro? Volta à filosofia?", disse a coordenadora geral da entidade, Andressa Pellanda.

No entanto, Andressa julga que a polĂ­tica educacional suspensa pelo atual governo não tem condições de ser remendada. Para ela, o problema maior estĂĄ no modelo proposto. "Não serve para a formação plena dos estudantes, sua formação, para a cidadania e para o trabalho".

Enem de 2023 e 2024

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023 não serĂĄ impactado pela suspensão de 60 dias da efetivação do Novo Ensino Médio. As provas, que avaliam o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação bĂĄsica e servem de porta de entrada no ensino superior, estão previstas para serem aplicadas em 5 e 12 de novembro.

Gabriel CorrĂȘa, do Todos pela Educação, esclarece que as alterações previstas no Novo Ensino Médio, iniciadas em 2021, não serão consideradas no Enem deste ano, pois não estavam completamente implementadas. "O Enem deste ano não vai ser ajustado ao Novo Ensino Médio e jĂĄ não seria mesmo. Não haveria mesmo mudanças em qualquer cenĂĄrio. A portaria antiga, que foi suspensa agora, jĂĄ indicava que o Enem de 2023 seguirĂĄ o modelo antigo do ensino médio".

Para CorrĂȘa, a grande discussão estĂĄ em torno da aplicação das provas do Enem do próximo ano. "No Enem de 2024, [conforme] estava previsto no novo modelo de ensino médio, o estudante teria no primeiro dia provas comuns, com todos os estudantes fazendo o mesmo exame. E no segundo dia os estudantes teriam opções de escolha de que provas fazer. Esse Enem previsto para 2024 deveria ser adiado", opina Gabriel.


Propostas

Katharine Ninive Pinto Silva, propõe que a revogação do novo ensino médio possa ser feita "implementando, de fato, as Diretrizes Curriculares do Ensino Médio de 2012, que orientam para uma formação para o mundo do trabalho, que possam integrar as disciplinas de formação geral a disciplinas de formação profissional nas modalidades integradas. Um exemplo dessa implementação são os Institutos Federais de Educação, CiĂȘncia e Tecnologia".

CorrĂȘa não defende revogar tudo o que estĂĄ na lei e voltar ao modelo anterior, porque, na avaliação dele, seriam perdidos alguns avanços. Ele prioriza o ajuste dos pontos falhos para superar desafios, tais como melhorar a infraestrutura das escolas, apoio aos professores e formação de diretores escolares.

Ele aposta na manutenção de trĂȘs premissas do novo modelo: a expansão da carga horĂĄria do jovem, a flexibilização dos currĂ­culos e a integração da formação técnica profissional. "Valorizar a formação e a educação técnica no ensino médio, que hoje, de fato, não é integrado".

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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